Brincando com a velocidade
Por Marcos Almeida
A década de 1970 marcou muito as crianças e adolescentes da
época com o início das transmissões da Fórmula 1, pela TV, com ênfase nos campeonatos
conquistados pelo piloto brasileiro Emerson Fittipaldi em 1972 e 1974. Também
performava nas pistas, o contemporâneo José Carlos Pace, que marcou a história
vencendo o Grande Prêmio do Brasil em 1975, tendo falecido em 1977 em um
acidente de avião.
Pocinhos do Rio Verde/MG década 1970
Viver a infância, com a possibilidade de “disputar a F1” em
cima de um carrinho de rolimã ou mesmo em um velocípede, era o auge da
imaginação. Assistíamos desenhos como a Corrida Maluca e Speed Racer. Pilotar
era um sonho maior do que jogar em algum time de futebol, onde o Brasil havia
assegurado de vez, poucos anos antes, o Tri da Copa do Mundo, e trazendo de vez
a Taça Jules Rimet, posteriormente roubada e todo o seu ouro derretido. Tudo
isso influenciava uma geração que, mesmo sob a ditadura militar, se acostumava com
os pódios dos brasileiros, gerando algazarra e festa nas ruas.
Apesar de todo o alvoroço que o barulho entusiasmado da
garotada produzia nos ouvidos da vizinhança, o limite era estabelecido pelos
pais para que fossem cumpridas as obrigações do “dever de casa” e das lições de
tabuada. E mais: para a convivência, conversa, uma refeição em família, a transmissão
da fé ou dos valores, por mais simples e humilde que fosse a morada.
Como entoou Padre Zezinho, em sua linda canção Utopia, “Meus
pais não tinham nem escola, nem dinheiro. Todo dia, o ano inteiro, trabalhavam
sem parar. Faltava tudo, mas a gente nem ligava, o importante não faltava, seu
sorriso e seu olhar.”
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| Bairro Rec. Fernandes - Pouso Alegre/MG - Anos 2000 |
Mas, será que os pais de agora viram o vídeo que o Felca, influenciador,
publicou em seu canal no YouTube, intitulado ADULTIZAÇÃO, abordando sobre os
perigos da dependência das crianças e adolescentes desse mundo digital?
Para além do que ele provoca sobre o tema, Içami Tiba, em
seu livro Quem Ama Educa (Ed. Gente) antecipadamente alertou: “Se a criança
fosse um carro de corrida, cada vez que ela chega junto do pai, ou da mãe, é
como se fizesse um pit-stop. Se a
parada é satisfatória, ela segue na corrida. Caso contrário, já na próxima
volta, terá de parar até estacionar completamente. Portanto, é melhor dar a
resposta de que ela precisa. Mesmo porque ela pode fazer o pit-stop com outras pessoas.”
Como os responsáveis pela educação dos filhos tem se
preparado para tamanha missão que os das décadas passadas nem sonhavam que seria
dessa forma como estamos constatando? Como é repugnante vermos pessoas
oportunistas, fazendo a cabeça de crianças e adolescentes com a concordância de
alguns tutores, mas certamente, que provocam um tremendo estrago no próprio clã
e até no futuro da nação?
Sabemos que, para tamanha velocidade nas diversas categorias
do automobilismo, regras são estabelecidas. Quem cumpre, corre, ou fica de
fora. As redes sociais são amparadas por diversos “Pilatos” do mundo moderno e têm
revelado vilões bem piores do que o Dick Dastardly. Os nossos legisladores têm
se omitido diante de novos desafios que, sequer sabem interpretar, apesar da
disponibilidade de recursos que têm acesso.
Enquanto isso, ficamos
dependentes de ações isoladas de pessoas que tentam fazer algo e que correm o
risco de cair no esquecimento, tanto quanto os antigos pilotos que as novas
gerações, provavelmente, nunca souberam de sua existência!
E aí? Qual a força necessária para mudar essa "brincadeira"?
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| Pedra Balão - Poços de Caldas/MG |


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