A humildade da Folia

Por Marcos Almeida

Quando a Folia de Reis começou foi aquele encantamento que esbarrou em mim. Nem dá pra explicar. E não cabe a mim explanar sobre esse grupo de tradição tão valiosa em nosso Brasil, pois existem autores mais qualificados. Aqui no Sul de Minas é um movimento de expressão muito persistente e resistente. Porém, acima de tudo, acredito que sobreviva por sua humildade no “cantartilhar”.

Folia de Reis - Pedra Branca - Caldas/MG

A qualidade de quem age com simplicidade, sem arrogância, superioridade, muito menos prepotência: a humildade. Repito, a humildade. Nem mais nem menos que ninguém. Complemento e empatia. A modéstia verdadeira traduz cada melodia entoada, cada verso recitado, com gestos e vestimentas que podem causar estranheza para o mundo urbanizado. Mas, abrindo o peito, cabe a cada expectador apreender. Vivenciar. A cantoria não se revela como “show”, mas na profunda conexão do íntimo com o sagrado. Corro o risco de querer resumir tamanha sensibilidade, onde os versos melodiosos ou declamados não realçam o mensageiro, mas o louvor à vida sacramental, fundindo espírito e matéria dos que arrodeiam.

Recitando na Folia

Não obstante, na minha submissa apreciação, ninguém pode se qualificar como humilde. Essa incumbência cabe somente às pessoas mais próximas ou, até mesmo, àquelas que encontramos pelos caminhos da vida. Matuta comigo, se não é rançoso quando alguém encontra com você, e logo diz: “sou uma pessoa humilde”.  Quiçá, pouco sabe o que disse, em essência. As atitudes e comportamentos é que são capazes de decretar essa estupenda qualidade. Alguém, contrapõe: é percepção. Concordo. Entretanto, segundo a etimologia, a palavra em questão, remonta ao latim, “humilis”: próximo ao chão. Húmus!

Somos dispostos para nos misturarmos e sermos nutridos, como a tal substância orgânica tem a vocação de se integrar à terra mais árida, renovando-a? Ou, controverso, qualquer solo aceitaria algo resultante de decomposição?

Louvor

Ao conversar com integrantes de uma cativante Companhia de Reis, tive a oportunidade de ser chão e, quase que imperceptível, fertilizado. Aprendizado que raras vezes encontrei onde trabalhei ou estudei. Tive excelentes mestres capacitados, mas não encontrei tamanha singeleza no olhar e nas palavras acolhedoras espalhadas pelos foliões.

Aprendendo a ser chão

Desejo acumular o verdadeiro aprendizado, ouvindo mais, olhando mais, falando menos. Assim, a bandeira do Divino nos ensina sobre a fé. A cantoria entoa em um pequeno trecho: “Deus que salve a casa santa onde Deus fez a morada”. Já me convenci que o coração é onde se abriga tudo o que se partilha com os irmãos, no prosear e no fitar. Só assim, a manjedoura, símbolo da humildade, estará ocupada pelo Menino Rei que será eternamente visitado pelos Reis Santos, representados pelas suas companhias!

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