O Esporte da Moda (Personagens de Caldas, Campestre e Muzambinho)


Por Marcos Almeida

O Brasil é um continente, Minas é um País e Caldas tem um estado de espírito de boa convivência. Procuro relembrar algumas passagens que guardo com afeto aqui neste espaço que abro o meu coração. Agora pouco, vi duas crianças “batendo bola” na rua.  Seria a moda antiga retornando? Porque sempre existe um esporte da moda, que a juventude abraça para poder se enturmar.

COPAS - 1990 

Quando olhamos para a história, sabemos que o futebol sempre foi um dos esportes mais praticados neste País desde o início do século passado. Basta ver as datas de fundação do Corinthians (1910), do Atlético Mineiro (1908) e da Ponte Preta (1900), só pra falar das melhores agremiações, segundo o critério do meu falecido pai. Quem não se lembra (pelo menos quem nasceu na década de 1960 ou antes) da final do Paulistão em 1977, entre o Timão e a Macaca? Basílio, o nome da emoção, depois do bate e rebate, bola na trave e, enfim, rede para sair da fila depois de quase 24 anos que o "Coringão" não ganhava nada. Eu vibrei com meus pais Zé do Correio e Ivete, no escuro, porque havia acabado a luz naquele dia em nossa cidade e ouvimos tudo pelo rádio de pilha.

Paulo Roberto, Marcos e Prof Antonio (Mestre)
Foto em Muzambinho - 1982

Mas por que citei o Galo Mineiro? Já sofri e sorri muito com esse time, mas conquistei um grande amigo que torcia para o rival Cruzeiro, a Raposa. Paulo Roberto, conhecido como Bodinho, em Muzambinho quando estudávamos na Escola Agrotécnica, por conta dessa nossa “divergência” como torcedores, acabamos nos aproximamos. Dá pra perceber pelas fotos o antes e o depois a nossa amizade, demonstrando que no esporte dá pra conviver e gerar um aprendizado mútuo. Havia essa discordância, mas concordávamos em outros assuntos como ética, política e religião, por exemplo. Mas quero contar outras coisas.

Marcos e Paulo Roberto
Foto em Ribeirão Preto - 2018

Voltando à tendência do esporte, em Caldas, tínhamos alguns estádios: o campinho do Vado, o campo atrás do Centro Espírita e o campão do Grêmio na Santa Cruz. No Colégio Estadual em que estudei, entre 1976 a 1979, que aprendi a correr atrás da pelota pesada em sua quadra de cimento com gols de ferro. Antes, em Pocinhos, as peladas que disputei na Escola Dr. Paiva de Oliveira foram no pátio gramado com gols de trave de chinelos ou de pedras. Às vezes, conseguíamos jogar na grama do parque do Balneário, vizinho da escola. Mas não havia quadra de cimento pra perder a tampa do dedão, porque a molecada do distrito era raiz e, quase todos, jogavam descalços ou no máximo de conga azul.  O kichute chegou logo em seguida e, sendo mais caro, também era raridade. 

Colégio Vicente Landi Júnior - Caldas/MG

Já no colégio, quando entrávamos na antiga quinta série, começávamos a conhecer outros esportes, como o atletismo, handebol, mas especialmente o Voleibol marcou muito em função do nosso saudoso Zé Lemes ser um apaixonado pelo esporte. Ele nos incentivava a treinar, entrava em quadra junto com meninos e meninas, tendo o seu jeito peculiar de utilizar a sua famosa manchete com as palmas das mãos unidas.

José Lemes e Sergio Bellini

Neste mesmo período em que estava no Vicente Landi Júnior, as autoridades municipais resolveram animar a turma das escolas com a primeira quadra poliesportiva municipal, com piso de taco de madeira, no andar superior do Palácio da Uva. Certamente o professor de educação física do colégio, Paulo Rocha, a Cássia do Vado e a Ritinha Barbosa irão se lembrar, que deu trabalho. Eu me recordo que toda a quadra recebeu verniz, ficando toda brilhante. Em uma cabeça de criança a imaginação voa.

Começamos a treinar naquele espaço retangular, sem chance da bola ir pro mato. Pessoas das mais diversas idades buscavam praticar o esporte sob a vigilância do Sr. Benedito (Mosquito), que guardava as chaves de acesso. Posteriormente, surgiu o famoso Campeonato de Futebol de Salão Comércio e Indústria, que é um capítulo à parte e que merece ser rememorado após pesquisas mais detalhadas, quem sabe. Lembro bem que joguei no time do Autopeças Cachorrão, com Luciano Pontes, Lolinho, Chico’s Dog, Ricardo do Valdomiro, Miller, Neco (São Pedro), entre outros. Posso afirmar que nesse time só tive vaga como reserva. Muitas equipes eram competitivas e nós lutávamos para não ficar na lanterna. Pelo menos nossa torcida era forte e foi muito empolgante para os fanáticos pelo futebol de toque rápido. Pena não ter fotografia daquele time.

Time dos empregados da CAIXA de Campestre/MG
COPAS - 1990

Quando me mudei para Campestre, tínhamos um “catado” da firma, ou seja, juntávamos o pessoal da agência da CAIXA FEDERAL e disputávamos batalhas contra os funcionários da MINAS CAIXA, agência vizinha e concorrente forte. As partidas aconteciam em quadra aberta de cimento no antigo Restaurante Lagoa Azul, caminho para Poços de Caldas. Era muita ralação de joelho e canela vermelha. Turma bruta. Criamos couro. Valderley, Aloísio, Júnior, Carlos, Luiz Fernando, entre outros atletas caixeiros e, já era hora, sendo titular e artilheiro (há controvérsias).

Certa vez, após esses treinos campestrenses, marcamos um jogo em Caldas, no Copas, contra o famoso time da EPAMIG, que sempre disputava o campeonato na cidade, comandado pelo capitão e beque de espera Mirtão, que na verdade se chama Nilton Caetano de Oliveira (atualmente atua no ramo da olivicultura, com consultoria e produção de azeite de qualidade em Maria da Fé), somando com Valter, Miller, Julinho Westin entre outros. A recordação do placar é confusa. Sei que vencemos o time dos meus amigos conterrâneos, jogando pelo time visitante. Foi 6x5 ou 5x4, ou seja, muitos gols. Ambas as equipes jogaram bem, suaram a camisa, onde o mais importante foi fazer a resenha no bar do Lair (ocê qué coca, coca?), tomando cerveja e comendo torresmo. Coisa boa e que dá pra comentar abertamente.

Retornando um pouco, uma vez, ainda quando adolescente, eu fiz parte de um time muito bom – e reserva novamente – que dava gosto de fazer parte, em um campeonato organizado pelo saudoso Miro Ramos (irmão do também saudoso Zé Coco). O vestiário no Copas era terrível, fedorento e nojento, mas era o melhor que se apresentava para aquele momento e, obrigatoriamente, precisávamos dividi-lo com os jogadores da outra equipe. Todos eram da terrinha, com brincadeiras de parte a parte, no momento de colocar os uniformes. Porém, o time adversário era ruim com força. Os atletas sabiam que iriam perder, porque os craques da cidade, Demétrius, Cuininha, Paulo Hamilton, Zé Gonçalves, Gilson do Investigador e outros que não me recordo, jogavam por música juntos, e ainda sob o comando do Sr. Wilson Leite. Como eu estaria na reserva, não tive pressa para entrar em quadra e fiquei em um dos banheiros terminando de me trocar com a porta encostada. Enquanto isso, o time adversário combinava a sua estratégia de jogo. Aí, o capitão deles disse:

- Aqui, hoje nós não vamos conseguir ganhar mesmo. Então, vamos dar “porrada neles”, do começo ao fim.

- É! Isso mesmo! Vamos com tudo quebrar aqueles boyzinhos, nem que o juiz nos expulse!

Entraram em quadra, fizeram o sinal da cruz passando, antes, a mão no chão, Eu, correndo atrás, afoito para avisar a turma o que era previsível acontecer. Foi jogo sujo desde o começo e me recordo que até tive que substituir alguém machucado, o que raramente acontecia. Acabamos vencendo e o jogo que terminou antes do previsto por falta de jogadores em campo, sendo três expulsos antes do fim do primeiro tempo. Ficaram apenas o goleiro e um atacante. Foi uma goleada. Na sequência do certame, conseguimos sagrar como campeões e, por sorteio, fiquei com o troféu do time.

O que me intriga, relembrando disso, é que nos dias atuais, onde algumas pessoas despreparadas para o que se apresentam a fazer, na política, na sociedade, em vários setores, quando encontram adversários ou concorrentes competentes, craques consagrados, começam a desqualifica-los aos berros, falando asneiras e mentiras, “jogando para a torcida”, tentando ganhar alguns aplausos de alguns fanáticos, com o objetivo de transformar um debate em uma “briga de foice no escuro”.

Esporte é alegria!

Vale na sociedade. Vale também na prática esportiva se envolver com alegria, mas com respeito ao adversário, sendo firme em cada lance, com marcação cerrada, mas sempre na lealdade, porque o campeonato não se resume em uma partida. E um jogo não resume a história de uma copa. A torcida sabe diferenciar quem está suando a camisa e quem está só dando canelada e "botinada", promovendo práticas desonestas. O esporte da moda pode ser qualquer um. Só não dá pra aceitar o método de "arrebentar os adversários" e acabar com a partida antes do tempo, nem pedir arrego para o juiz quando provocou a penalidade máxima.


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